terça-feira, 11 de outubro de 2016

UGTpress: O EMPRESARIADO E A CRISE

ESCRACHO: com esse nome pesado, a jornalista da Folha de São Paulo, Eleonora de Lucena, escreveu um artigo (27-03, A-3) sobre a postura da elite brasileira, incluído aí o empresariado, abordando a miopia daqueles que estão no andar de cima da sociedade. Ela começa detonando: “A elite brasileira está dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país. Não é a primeira vez”. A partir daí, a jornalista anota alguns momentos históricos – escravidão, movimento de 1932 em São Paulo, golpes de Estado, aliança com militares e estrangeiros – nos quais a mesma elite de hoje, que se alia com o capital financeiro, impediu o país de saltar para um verdadeiro desenvolvimento sustentado. Dá a entender que a classe média sempre esteve mergulhada no obscurantismo.

RIGOROSO: o artigo talvez seja demasiado rigoroso, deixando transparecer rancores esquerdistas, mas não deixa de olhar para o outro lado do impeachment que, segundo ela, “trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataques a direitos”. A conversa é a de sempre: o Estado está falido, não tem dinheiro e, ao invés de promover reformas claras e modernizar a administração, investe no desmonte da Previdência, da Petrobrás e do Sus. “Sem líderes, deixa-se levar pela miragem da lógica mundial financista e imediatista, que detesta a democracia”. Enfim, não há dinheiro para nada, mas para os juros sempre há. Quem comanda este quadro são exatamente dois banqueiros, um no Ministério da Fazenda e outro no Banco Central.

REVOLUÇÃO: no Brasil seria possível fazer uma revolução somente mexendo corretamente na administração pública, melhorando a sua produtividade e eficiência. Reduzir os déficits seria o melhor dos caminhos e aí todo mundo acerta. Contudo, a forma está errada. Controla-se mal e porcamente as despesas dos governos tirando recursos dos fundos sociais, mas, sem atacar a má gestão e os enormes entraves, todos arraigados nos maus costumes. Para consolidar o projeto político desta elite, renegociou-se a dívida dos Estados, aumentaram-se os salários de diversas categorias públicas, especialmente daquelas que já ganham mais, os recursos para a seca e para os jogos olímpicos foram suplementados e fez-se um remendo na legislação fiscal impondo um crescimento das despesas de acordo com a inflação (ora, se estamos altamente deficitários, não é o caso de aumentar as despesas, mas sim de cortá-las no que têm de nocivo e prejudicial). Os governadores têm voto e foram insistentes e, por fim, eficientes nesta estratégia de obter mais recursos à custa de um Estado já falido. Não pode dar certo.

ENERGIA DAS RUAS: não se acredita, até pelos graves erros cometidos pela esquerda que sai, que as ruas poderão ser um contraponto a este projeto, mais uma vez, enganoso. É provável, como diz Eleonora de Lucena, que “não vai ser um passeio a retirada de direitos e de perspectiva de futuro”. Haverá sim, resistência, mas também do lado dos trabalhadores ela está enfraquecida, quando não comprometida pela continuidade do atual sistema, uma moeda tradicionalmente utilizada pelos políticos. Todavia, também erra a direita que entra, especialmente em sua pressa para desmontar o Estado de Proteção Social (nunca chegamos e nem chegaremos ao Estado de Bem-Estar Social, de resto também fragilizado na Europa). No meio disso tudo, a figura do presidente oficialmente empossado, ainda refém da classe política (Congresso, governadores e partidos políticos). As manifestações tendem a crescer e, apesar das reações violentas em alguns estados (São Paulo, por exemplo), devem persistir e tirar o sono dos novos governantes.

OPÇÃO EMPRESARIAL: qual é a prioridade dos empresários dentro desse quadro ainda confuso? Para quem sobreviveu até agora (grandes grupos, capital financeiro, setores resistentes, multinacionais, etc.), provavelmente, as opções principais sejam as reformas trabalhista e previdenciária. A retomada do crescimento é opção dos pequenos empresários e dos setores mais vulneráveis, aqueles que foram afetados fortemente pela crise. Para estes, a sobrevivência passa pelo retorno ao crescimento. Há uma longa distância entre o pequeno e o grande empresário. As pequenas e médias empresas são responsáveis por dois terços dos empregos e deveriam ser a preocupação do governo, mas não é isso que se nota. Nos próximos meses, possivelmente, o quadro político e econômico deverá estar mais claro. 

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