Atrás da cerca em torno do Estaleiro Rio Grande, da Ecovix, está o fio de esperança de parte dos
trabalhadores demitidos do polo naval. A empresa está parada e em recuperação judicial desde dezembro,
após cortar 4 mil funcionários em dois meses, mas a eventual retomada da construção do casco da
plataforma P-7 1 empregaria 2,8 mil pessoas por 16 meses, com investimento estimado em US$ 280 milhões.
A obra fazia parte do lote de oito unidades encomendadas pela Petrobras em 2010.
É por conta deste fôlego extra que o Sindicato dos Metalúrgicos, a prefeitura e entidades empresariais
tentam convencer a estatal a reativar a construção. Audiências públicas em defesa do polo foram realizadas
na Assembleia Legislativa do Estado e no Senado. E os representantes da cidade querem encontro com o
presidente Michel Temer em busca de um compromisso para a retomada da obra.
Em dezembro a Petrobras rescindiu o contrato dos quatro cascos que restavam ser construídos no estaleiro.
Em recente entrevista a uma rádio de Porto Alegre o presidente da estatal, Pedro Parente, sinalizou que não
há interesse em retomar o projeto e mesmo que essa posição fosse revista, alguém teria que adquirir os
ativos da Ecovix, pois a empresa não tem condições financeiras para operar.
O braço naval do grupo Engevix já construiu quatro cascos para plataformas e chegou a ter 12 mil
trabalhadores na cidade, mas agora mantém 200 pessoas para fazer a manutenção do local e dos materiais
estocados. Com dívida de R$ 8 bilhões, apresentou um plano de recuperação judicial que prevê a venda dos
ativos em duas etapas. A assembleia de credores para avaliar a proposta deve ser marcada nas próximas
semanas.
Além do casco da P-7 1, com 50% a 60% da construção concluída, o Estaleiro Rio Grande abriga blocos e
chapas que seriam usados nas obras para as plataformas P-7 2 e P-7 3. Conforme o prefeito Alexandre
Lindenmeyer (PT), são 147 mil toneladas de metal depositadas no local. "Enquanto não cairmos no
esquecimento, temos esperança."
Para Lindenmeyer e para os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos, os escândalos que envolveram
executivos de diversas empresas do setor naval, apurados pela Operação Lava-Jato, não justificam que o
governo vire as costas para o setor. "Se houve corrupção, que se puna os responsáveis, mas não se destrua
uma política industrial importante para o país", afirma.
"O que o operário e a menina do cafezinho da Ecovix têm a ver com a Lava-Jato?", indaga o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos, Benito Gonçalves. "Enquanto os envolvidos estão com tornozeleiras eletrônicas
no conforto das mansões, quem paga a conta são os desempregados", diz o vice-presidente da entidade, Sadi
Machado.
Os dois estaleiros ainda em operação empregam 2,9 mil pessoas, sendo 1,6 mil no EBR, em São José do
Norte, e 1,3 mil no QGI, em Rio Grande, mas essas vagas não devem durar muito tempo porque nenhum
deles tem perspectiva de novas encomendas. O EBR já faz a integração dos módulos na P-7 4 e nos últimos
meses demitiu 600 a 7 00 empregados.
O QGI mantém 1,3 mil trabalhadores na montagem de módulos para a P-7 5 e a P-7 7 . A construção deve ser
concluída até agosto, mas o estaleiro ainda espera pelos cascos que a Petrobras deveria ter entregue em
março.
Por Sérgio Ruck Bueno
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário